E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?

Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?

As crenças constituem sistemas organizadores centrais da experiência humana. Representam construções cognitivas e emocionais que influenciam a perceção, o pensamento, o afeto e o comportamento, funcionando como filtros através dos quais cada indivíduo interpreta o mundo e a si próprio (Beck, 1976; Fishbein & Ajzen, 2010).


Do ponto de vista psicológico, as crenças funcionam como uma espécie de mapa interno: ajudam-nos a dar sentido ao mundo, a organizar o que vivemos e a orientar a forma como pensamos, sentimos e reagimos perante as situações do dia a dia. São indispensáveis à sobrevivência cognitiva e emocional, uma vez que possibilitam organizar o fluxo incessante de estímulos internos e externos, reduzindo a incerteza, permitindo-nos agir de modo consistente com a nossa identidade.

As crenças funcionam como uma espécie de mapa interno.

Contudo, essa mesma função organizadora pode tornar-se fonte de conflito e sofrimento quando as crenças são rígidas, distorcidas ou desadaptativas.

As crenças desadaptativas, frequentemente internalizadas a partir de experiências precoces de crítica, rejeição ou desvalorização, originam padrões automáticos de pensamento e comportamento que perpetuam o mal-estar (Beck, 2011; Young et al., 2003). Por exemplo, crenças como “não sou suficiente”, “o mundo é perigoso” ou “não posso confiar em ninguém” tendem a gerar respostas emocionais de medo, culpa ou evitamento, interferindo nas relações interpessoais e na capacidade de autorregulação.

Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?

Segundo Bandura (1997), a crença na própria capacidade, a chamada autoeficácia, constitui um elemento essencial na regulação do comportamento humano e na perceção de controlo pessoal. Esta crença influencia diretamente a motivação, a persistência e o modo como enfrentamos desafios, sendo determinante para o equilíbrio psicológico e para o sucesso terapêutico.

Na mesma linha, Rosa Basto (2020) refere que “para as pessoas que acreditam que o seu objetivo pode ser alcançado e que têm tudo o que é necessário para lá chegar, o caminho torna-se mais fácil e observável”, e o ponto de viragem na vida de uma pessoa surge quando esta decide transformar as suas crenças e assumir um papel ativo no seu próprio crescimento. Assim, compreender e reformular as crenças torna-se um passo fundamental no processo de desenvolvimento pessoal e terapêutico, promovendo autonomia, responsabilidade e autenticidade.

Compreender e reformular as crenças torna-se um passo fundamental no processo de desenvolvimento pessoal e terapêutico.

Em hipnoterapia, o trabalho com as crenças é um processo profundamente humano e transformador. Quando entramos num estado de atenção focalizada e serena, a mente abre-se, tornando-se mais permeável à compreensão e à mudança. Nesse espaço de quietude interior, é possível observar, com curiosidade e sem julgamento, os pensamentos e sentimentos que nos acompanham diariamente, aqueles diálogos internos que, muitas vezes, repetimos sem perceber.

É a partir dessa observação que começamos a descobrir as crenças intermédias e, mais fundo ainda, as crenças nucleares, aquelas ideias centrais sobre quem somos, o que merecemos e o que é seguro ou perigoso no mundo. São estas crenças, muitas vezes formadas há muito tempo, que silenciosamente guiam as nossas escolhas, os nossos medos e a forma como reagimos à vida.

Na terapia, procuramos compreender essas crenças não como verdades absolutas, mas como construções mentais que, em algum momento, tiveram uma função protetora.

Talvez tenham surgido para nos ajudar a lidar com a dor, com a rejeição, ou para nos manter seguros num ambiente onde o afeto ou a validação eram escassos. O problema é que, ao longo dos anos, essas crenças continuam a atuar, mesmo quando já não fazem sentido.

Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?

Sendo a hipnoterapia uma ferramenta de autoconhecimento e reconciliação interna, através dela é possível revisitar essas experiências com um olhar diferente, um olhar adulto, maduro e compassivo.

O paciente aprende a perceber que aquela crença já não o serve, e com o apoio do terapeuta e num ambiente de segurança e respeito, a mente começa a reconfigurar os significados antigos, abrindo espaço para novas interpretações e novos modos de ser. O inconsciente (essa parte da mente que guarda memórias, emoções e aprendizagens) pode ser ouvido, reconhecido e libertado do peso de crenças que já não correspondem à realidade presente.

O processo terapêutico é, no fundo, um caminho de reconciliação com a própria mente. Quando uma crença se transforma, não muda apenas uma ideia: muda uma história interna, muda uma forma de estar, muda o modo como o corpo respira e como o coração sente.

O processo terapêutico é, no fundo, um caminho de reconciliação com a própria mente.

A terapia oferece um espaço protegido onde o indivíduo encontra compreensão de si, sobre os outros e sobre a vida, e pode decidir, conscientemente, o que quer continuar a acreditar.

É um espaço onde o inconsciente deixa de ser um adversário e passa a ser um aliado no crescimento e na cura. Fazer terapia não é sinal de fraqueza, é um ato de coragem e responsabilidade pessoal. É reconhecer que todos carregamos histórias, medos e crenças que, em algum momento, nos serviram, mas que agora nos limitam. É permitir-se olhar para dentro, com apoio profissional, e reencontrar dentro de si o poder de transformar.

Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?

Todos nós, em qualquer momento, acordamos do emaranhado em que nos encontramos para descobrir um novo rumo na vida (Basto, 2020). Porque, no fim, o processo terapêutico é um reencontro com o essencial, com a liberdade de escolher o que queremos acreditar, com a serenidade de aceitar quem somos, e com a capacidade de viver de forma mais consciente, leve e autêntica.

Fazer terapia é investir na vida. É escolher cuidar da mente com a mesma importância com que cuidamos do corpo. É, acima de tudo, um gesto de amor próprio e talvez o mais transformador de todos.


Referências Bibliográficas:

Bandura, A. (1997). Self-efficacy: The exercise of control. W.H. Freeman.

Basto, R. (2020). Comece a Viver Agora. Planeta Manuscrito.

Beck, A. T. (1976). Cognitive therapy and the emotional disorders. International Universities Press.

Beck, A. T. (2011). Cognitive therapy: Basics and beyond (2nd ed.). Guilford Press.

Fishbein, M., & Ajzen, I. (2010). Predicting and changing behavior: The reasoned action approach. Psychology Press.

Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. (2003). Schema therapy: A practitioner’s guide. Guilford Press.

Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | E se aquilo que limita não for o que vive, mas o que acredita?
Siga-nos!
Latest posts by Dra. Isabel Rocha (see all)