A promessa que fazemos para não mudar agora
Aproxima-se o ano novo e, com ele, surgem novas expetativas. Abunda a esperança de que neste novo ano é que “vai ser”: vamos começar aquela dieta, vamos treinar, levar o trabalho com mais leveza, iniciar aquele novo projeto, começar a fazer terapia… Lamento, caro leitor, dizer-lhe que essas expetativas são, na maior parte das vezes, em vão. As mudanças começam agora. Não é necessária a transição para um novo ano para começar a cuidar de si; não se iluda com a ideia de “começar do zero”, pois isso não é motivação, é autoengano.
No início do ano fazemos promessas que raramente cumprimos e convencemo-nos de que “este ano vai ser diferente” como uma autojustificação que nos alivia da culpa pelo que não foi feito. O nosso cérebro é uma máquina incrível, mas avessa ao desconforto e ao sentimento de culpa. Uma zona especial – o córtex pré-frontal – cria uma história agradável para neutralizar essas emoções desagradáveis que surgem quando nos apercebemos de que não cumprimos nada do que nos propusemos, convencendo-nos de que, no próximo ano, faremos diferente. Depois fantasiamos com a mudança futura e… pumba: mais uma dose enganadora de alívio.
…convencemo-nos de que “este ano vai ser diferente” como uma autojustificação que nos alivia da culpa pelo que não foi feito.

A verdade é simples: o nosso cérebro gosta de conforto, não de mudança ou esforço. Ano após ano, não conseguimos cumprir com nada do que nos propomos porque continuamos a criar uma história otimista sobre o ano seguinte, uma história que produz o mesmo alívio emocional que a ação real, mas sem esforço. E, perante esta escolha, o cérebro escolhe sempre a história.
Ano após ano, não conseguimos cumprir com nada do que nos propomos porque continuamos a criar uma história otimista sobre o ano seguinte…
Não será melhor aceitarmos e confrontarmo-nos com a dura realidade de que nada fizemos e de que nada mudámos? Até quando vamos compactuar com todas as histórias que o nosso cérebro nos conta?
Não diga a si mesmo “este ano vai ser diferente”, pois esse é o mote para que tudo permaneça igual.
Deixo-lhe sugestões para que, daqui para a frente, possa começar a verdadeira mudança:
- Ganhar consciência
Sempre que se apanha a criar justificações mentais para diminuir a culpa por não ter cumprido as suas resoluções, questione-se:
- “Estou realmente comprometido com a mudança ou apenas estou a encontrar desculpas para me sentir melhor?”
- “O que posso fazer hoje para cumprir com as minhas resoluções?”
- Assumir o compromisso
O adiamento de resoluções perde força quando existe uma ação real e pequena no presente. Por exemplo, se a sua resolução for “este ano vou começar a fazer exercício”, substitua-a por:
- “Hoje, durante 10 minutos, faço exercício.”
- “Amanhã às 9h, faço 15 minutos de exercício.”
Desta forma, estipula pequenos passos, micro-metas, e o cérebro começa a criar o hábito sem grande esforço.
- Começar a agir como se já fosse a pessoa que quer ser.
A neurociência comprova que as verdadeiras mudanças acontecem quando alteramos quem acreditamos ser, não apenas o que queremos fazer. Haja agora como se já tivesse os hábitos, a disciplina e a identidade que deseja alcançar. O cérebro não distingue entre uma experiência real e uma simulada, e ao agir dessa forma, cria-se a base para mudanças reais.
Não espere pelo ano novo: comece hoje a ser a pessoa que quer ser e transforme intenções em ações concretas.
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